terça-feira, 20 de outubro de 2009


AS
GRAVURAS
PALEOLÍTICAS
DO
VALE
DO
CÔA


No vale
do Côa existem centenas, talvez milhares de gravuras do período Paleolítico. O seu estudo está a ser realizado por uma equipa de arqueólogos e demorará anos, talvez décadas.



As gravuras têm como suporte superfícies verticais de xisto, com exposição preferencial a nascente. A dimensão das gravuras oscila entre 15 cm e 180 cm, embora predominem as de 40-50 cm de extensão. As técnicas de gravação usadas são a picotagem e o abrasão, que por vezes coexistem, com o abrasão regularizando a picotagem. Os traços são largos, embora sejam por vezes acompanhados de uma grande quantidade de finos traços, que serviram de esboço ou complementavam os anteriores. Noutros casos, estes traços finos desenham formas dificilmente perceptíveis. Existem também gravuras preenchidas com traços múltiplos.
As gravuras representam essencialmente figuras animalistas, embora se conheça uma representação humana e outra abstracta. Em Março de 95, ainda não se conheciam representações de signos, característicos da arte rupestre paleolítica. Os animais mais representados são os cavalos e os bovídeos (auroques). Exclusivos em certos núcleos, eles podem também coexistir com caprídeos e cervídeos. Os animais aparecem isolados ou em associação, constituindo autênticos painéis. As representações de animais podem sobrepor-se mais ou menos densamente, como podem também estar bem individualizadas.


A imprensa divulgou abundantemente a importância patrimonial e científica das gravuras de Foz Côa. Contudo foi pouco explicada a razão de ser dessa importância.
O seu valor patrimonial é fácil de explicar. Até à década de 80, a arte do Paleolítico Superior só estava representada no território nacional pelas pinturas da gruta do Escoural (Montemor-o-Novo). Deverá esperar-se por 1981, para que seja identificada a primeira estação de arte rupestre paleolítica ao ar livre, em Mazouco (Freixo de Espada-à-Cinta), a cerca de 25 km do vale do Côa. Trata-se de uma gravura representando um cavalo com cerca de 62 cm de comprimento. O complexo do vale do Côa é, portanto, a terceira estação de arte rupestre paleolítica conhecida em Portugal. Não estamos perante uma rocha com uma gravura isolada, mas sim centenas, talvez milhares, de gravuras distribuídas ao longo de um vale.
280 grutas e só 5 estações ao ar livre
A importância do achado transcende o território nacional, porque se é verdade que conhecemos hoje cerca de 280 grutas com pinturas paleolíticas na Europa Ocidental, também é verdade que só foram identificadas até hoje quatro outras estações de arte rupestre paleolítica ao ar livre no mundo inteiro: Mazouco, que já citámos, Fornols-Haut (Campôme, França), Domingo Garcia (Segóvia, Espanha) e Siega Verde (Ciudad Rodrigo, Espanha), nas margens do Rio Águeda, a poucas dezenas de quilómetros do Vale do Côa. O que existe no Côa não é, portanto, somente raro, é, de facto, quase único.


Quando é que as gravuras foram feitas ?

Foi muito discutida a atribuição das gravuras do Vale do Côa ao período Paleolítico. É necessário por isso esclarecermos como é que se chegou a esta conclusão. O Paleolítico superior ou "Idade da Rena" é o período que se estende desde cerca de 38 000 a. C. até 9 000 a. C., em que o Homo sapiens sapiens, o nosso semelhante, apareceu na Europa. Dentro desse longo período distinguem-se várias culturas, identificáveis pelos vestígios materiais que deixaram. A cultura Chatelperronense acaba por volta de 28 000 a. C., momento quando começa o Gravetense, que dura até cerca de 18 000 a. C. A esse momento acaba também a cultura Aurignacense, que começa por volta de 32 000 a.C.. A Solutrense situa-se entre 18 000 a. C. e 15 000 a.C. e a Magdalenense dura de 15 000 a. C. a 9 000 a. C. As gravuras mais antigas conhecidas no vale do Côa (até Março de 95) eram identificáveis com o Solutrense médio antigo, ou seja, teriam sido feitas há mais ou menos 20 000 anos.

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